- Cuiabá
- QUARTA-FEIRA, 8 , JANEIRO 2025
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“O excesso de obras transformou a Agecopa em um Estado paralelo. Deixamos de focalizar naquilo que era a principal responsabilidade da agência, abrimos demais nosso portfólio de espaço para obras e esquecemos de focar naquilo que era o essencial”.
A declaração é do ex-presidente da Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo do Pantanal (Agecopa), deputado federal Adilton Sachetti (PSB), em depoimento, nesta terça-feira (27), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Copa, na Assembleia Legislativa.
A Agecopa foi antecessora da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa).
Durante o depoimento, Sachetti afirmou ter sido contrário ao fato de a agência ter assumido a responsabilidade de uma série de obras em Cuiabá e Várzea Grande, e que não constavam na Matriz de Responsabilidade firmada com a Fifa.
O parlamentar, que entregou o cargo da presidência em meio às disputas internas na Agecopa, condenou, ainda, o fato de a agência, de certa forma, interferir em assuntos que, na prática, deveriam ser de competência de outras secretariais.
“O turismo, por exemplo, era para ser algo transversal à Agecopa. Tínhamos a Secretaria de Turismo (Sedtur) para executar as obras dessa natureza. Não tínhamos que fazer teleférico, não tínhamos que discutir Salgadeira… Isso não era nossa função. Tínhamos apenas que contribuir e somar com a Sedtur”, afirmou.
“No entanto, a Agecopa acabou interferindo em outras pastas. Isso prejudicou e muito as ações. Ficaram dois pensamentos: o pensamento da Secretaria de Turismo e o da Agecopa. A partir do momento em que tirou as ações da secretaria e colocou a Agecopa para fazer, criou-se um Estado paralelo”, reiterou o ex-presidente.
Interferência política
Durante a oitiva, Adilton Sachetti afirmou também que vários projetos que passaram a ser denominados de “obras da Copa”, assim o foram sem nenhuma necessidade, pensando apenas na questão política.
Ele citou como exemplo obras como a de pavimentação de 2,7 km das avenidas Mário Palma e Estrada do Ribeirão, no bairro Ribeirão do Lipa, além do asfaltamento da Avenida Archimesdes Pereira Lima (Estrada do Moinho) e da passagem atrás do rio Coxipó.
“O que a Copa do Mundo tinha a ver com obra no Ribeirão do Lipa? Acredito que isso foi feito para alguém obter vantagem pessoal. Saiu querendo fazer tudo, por pressão política, por interesses políticos”, afirmou, sem citar nomes.
“Eu defendia que se fizessem as coisas básicas, aquilo que estava na Matriz de Responsabilidade e, depois, que encerrássemos a nossa atividade. Estávamos passando por cima de prefeitos, como se fossemos Estado paralelo”, completou.
“Fui humilhado”
Ainda em seu depoimento, Sachetti afirmou que esse foi um dos motivos que o levaram a deixar a presidência da agência.
“Certa vez, sai da agência e, de repente, haviam lançado seis obras que nada tinham a ver com a Copa. Consegui cancelar cinco, uma já não dava mais tempo. Então, era desta forma: eu respondia por coisas com as quais eu não concordava, havia sempre essa tensão, agressão verbal. Ia chegar ao ponto de nós diretores digladiarmos, dentro da agência”, disse.
“Não sou alguém que tem sangue de barata. Fui ofendido, humilhado, minha mãe e minha esposa foram ofendidas em falas que tive com demais diretores, não dava para trabalhar nesse nível. Ficar na agência seria desastroso, iriamos acabar indo às vias de fato”, completou.
Projeto de última hora
Adilton Sachetti tambem afirmou que, durante o período em que esteve à frente da Agecopa, não havia qualquer discussão em torno da eventual implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
“Eu era radicalmente contra o VLT. Na minha avaliação, não se abre discussão daquilo que não estava na Matriz de Responsabilidade. Dentro da Agecopa, não se discutiu o VLT. Depois que eu sai, começaram as discussões e com uma velocidade assustadora”, afirmou.
“Nosso comprometimento era com o BRT e, para isso, assinamos o contrato de financiamento com a Caixa. Esse era um projeto que o Ministério da Cidade trabalhava há mais de 10 anos. Depois, trocaram para um projeto de última hora”, concluiu.